A pandemia pelo Covid-19 surpreendeu a todos e, de forma súbita, o ritmo de vida cotidiano foi interrompido. Como dermatologista, suspendi os atendimentos no consultório colaborando com as medidas de isolamento social da quarentena, mas começaram a surgir os telefonemas solicitando consulta pelas “urgências” dermatológicas como as doenças bacterianas agudas, abscessos, herpes zoster, urticária e outras alergias. Prepara-se o consultório para o atendimento com as medidas de segurança, depois, com a aprovação de teleconsultas, pelo conselho de medicina, vem os preparos para o ambiente virtual. Paralelamente, começaram as publicações e discussões entre colegas, sobre manifestações dermatológicas do novo vírus. Poderiam surgir casos com lesões de pele para diagnóstico de Covid-19 com manifestações de aspecto semelhante às doenças alérgicas ou hemorrágicas, lesões como petéquias e púrpuras.

Contudo, não foi o que aconteceu, casos da rotina de um consultório de dermatologia foram surgindo, porém com características que se repetiam e chamaram atenção: o aparecimento súbito e, coincidentemente, a evolução de cerca de três meses, que nada mais era do que o período da quarentena. Eram casos de dermatite seborreica (caspa) agravada, ressurgimento da psoríase que estava controlada, alopécia telogênica (queda de cabelo difusa) abundante, surgimento de áreas de alopécia areata (queda de cabelo localizada) e mesmo casos de acne (espinhas) acentuados. O que teriam esses casos em comum além do tempo de evolução? O fator emocional! Impreterivelmente todos, ao serem indagados sobre possível efeito emocional da quarentena, como ansiedade, depressão, angústia, medo, que pudesse ter desencadeado a doença, como um gatilho, a resposta era positiva. Essa relação, na dermatologia, já é bem conhecida, ambos órgãos, pele e sistema nervoso, têm a mesma origem na formação do embrião e respondem aos mesmos estímulos.

É a pele expressando as emoções, os sentimentos gerados pelo novo coronavirus, a pandemia e o isolamento social, não pouco necessário. Como atingir o equilíbrio com o bombardeio de informações disponíveis pelos diversos meios? Além de termos todos os cuidados com o vírus, teríamos que cuidar da pele? Parece pouco frente a tantos óbitos, mas não, é a pele nos informando que precisamos cuidar mais da nossa mente, dos nossos sentimentos, das nossas relações sociais e espirituais. É mais um aviso para nos olharmos internamente, para nos cuidarmos como um todo e para usarmos de todos os meios para cuidarmos uns dos outros também, como um ser social.

Silmara Navarro Pennini
Dermatologista e Conselheira do CREMAM
CRM-AM 2010 RQE 377

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