Em 1958 eu era Parasitólogo do INPA e a nossa equipe de pesquisadores foi para Codajás, cidade interiorana, às margens do Rio Amazonas com a finalidade de estudar a Mansonella Ozzardi e terminar de vez com a dúvida existente até então sobre a sua patogenicidade. Foi um trabalho de equipe muito bem elaborado e exitoso! A nossa equipe pesquisou, diagnosticou e comprovou a sua patogenicidade, eliminando de vez a dúvida até então existente! Nosso trabalho de equipe foi publicado na revista – O Hospital – Rio de Janeiro. Toda a equipe médica e de pesquisadores ocupou o ambulatório dos Padres Redentoristas, Equipe clínica, Laboratorial e Entomológica. Foi um trabalho árduo. Hoje não há mais dúvida sobre a sua patogenicidade! Foi descoberto o transmissor e o ciclo evolutivo no mosquito pela equipe do Dr. Cerqueira.

Em um sábado pela manhã fui chamado de emergência para atender uma gestante que veio em uma canoa com quatro filhos e seu marido. Ao chegar no ambulatório encontrei uma grávida de nove meses extremamente pálida, anêmica, em hipotensão com trabalho de parto paralisado, em virtude de rotura espontânea do útero, com expulsão do feto e placenta para a cavidade abdominal. Notavam-se dois grandes volumes: útero totalmente retraído, sem hemorragia externa, feto morto e com placenta expulsos para a cavidade abdominal. A pequena cidade do interior com apenas 1.100 habitantes não havia Hospital, sangue ou qualquer outra possibilidade de fazer qualquer cirurgia!

Como era sábado pela manhã, equilibrei o nível pressórico da paciente e falei com os Padres George e Fisher, responsáveis pelo ambulatório onde a nossa equipe estava fazendo a pesquisa e que a paciente deveria ser encaminhada para Manaus, com urgência, porque à tarde passaria um Catalina da FAB para pegar passageiros. Havíamos telefonado para Dr. Euzébio, em Manaus, que enviaríamos a paciente no Catalina e que chegaria à tardinha. O Padre George, o marido, a paciente e um remador foram para o Catalina, a fim de ser transportada para Manaus e ser operada pelo Dr. Euzébio Cardoso naquela mesma noite. Eu e o Dr. Euzébio éramos os responsáveis pela Maternidade da Santa Casa para atender as parturientes pobres de Manaus.

A canoa ao chegar ao Catalina foi atendida de imediato pelo Comandante que se negou a receber a paciente conduzida pelo Padre George. Diante da recusa o Padre George falou bem alto para que todos ouvissem: se não levar o casal irei rogar uma praga: – “o avião irá cair e todos irão morrer, não escapará ninguém”. Revoltaram-se contra o Comandante, tanto os passageiros como os tripulantes, o que o obrigou a aceitá-la com o seu marido.

No outro sábado recebemos de volta no mesmo Catalina, a paciente com o seu esposo. Foi uma felicidade geral, a paciente voltou operada e em ótimas condições.


Wallace Ramos Oliveira
Médico Ginecologista e Obstetra

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